Provavelmente você conhece ou já ouviu falar da teoria da evolução das espécies, publicada pelo naturalista inglês Charles Darwin em 1859. Resumidamente, o autor diz que os seres mais adaptados ao meio em que vivem têm maiores chances de sobrevivência, deixando mais descendentes. O britânico revolucionou a forma como a ciência enxergava organismos, animais e plantas, criando novos campos de estudo no mundo todo. A ideia, porém, já não era inédita no mundo na época.
Um filósofo muçulmano, chamado Abu Usman Amr Bahr Alkanani al-Basri, conhecido como Al-Jahiz, desenvolveu uma teoria muito similar a do inglês, porém mil anos antes. Nascido em 776 na cidade de Baçorá, região que hoje é o sul do Iraque, ele escreveu que os animais se adaptam num processo que também denominou de seleção natural. Sua região era sede de debates sobre religião, ciência e filosofia num momento em que o movimento Mutazilha, que defende o exercício da razão humana, crescia.
Na publicação “O Livro dos Animais”, Al-Jahiz cita 350 espécies, com ideias muito similares àquelas publicadas por Darwin no século XIX. A enciclopédia diz que “os fatores ambientais influenciam os organismos, fazendo com que desenvolvam novas características para assegurar a sobrevivência, transformando-os assim em novas espécies”, e que “os animais estão envolvidos numa luta pela existência e pelos recursos para superar seu predador e para se reproduzirem”. Para o muçulmano estava evidente que uma espécie é mais forte que a outra e que os animais constantemente lutam para sobreviver.
O que parece óbvio hoje, não era há dois séculos. Não há evidências de que Darwin conhecia a obra do autor islâmico, mas suas obras foram referenciadas na época por outros filósofos. As ideias de Al-Jahiz foram citadas por William Draper, como “teoria da evolução maometana” em 1878, pouco tempo depois da publicação de Darwin, que falava sobre o tema.